Primeiros dias.

Nos organizamos da seguinte maneira:

As crianças colhem as orquídeas boas. Boas são as que apresentam as cores púrpura e verde simultâneas, ou as orquídeas azuis brilhantes. As outras ainda têm de maturar.

As moças preparam os buquês com esmero.

Os homens (somos em maior número) cuidam das ervas daninhas e mantém as orquídeas saudáveis, as regando quando necessário e as protegendo do sol excessivo trazendo toldos.

Na primeira semana conseguimos carregar dois carros razoavelmente cheios com os buquês. O aroma parece ter agarrado na minha pele e cabelos e imagino que nunca mais vai me abandonar. Tornei-me destro o suficiente com uma tesoura para não cortar acidentalemente as orquídeas durante minhas distraídas elucubrações.

Vimos o adepto veruniano passando ao longe duas vezes neste tempo. Ele usa um robe castanho e um grande chapéu que torna a sua silhueta inconfundível no morno sol da tarde. Anda despreocupado com a certeza que nada requerirá sua ação imediata, ainda que sua presença a todos tranquilize. Dizem que ele é capaz de invocar o avantesma de Idun e curar as feridas mais graves fazendo seu altíssimo derramar uma lágrima, e dizem que suas palavras são serenas como a noite mais cálida. Nunca tivemos oportunidade de falar a ele apesar da maioria dos aldeões querer suas bênçãos. Ele sempre passa longe o suficiente para que nós não nos aproximemos, e perto o suficiente para sabermos que está nos protegendo.

Outra personagem que conheci foi Viola, uma viúva, mãe de cinco crianças adoráveis. Ela faz buquês belos como si mesma, os enfeitando com flores silvestres que colhe por conta própria do chão. Foi a última a subir no carro para Lothair e voltou com histórias de uma cidade de muros esculpidos com grandes bandeiras azuis bem escuras, uma cidade nova e magnífica.

No próximo carro, eu serei quem irá para Lothair acompanhar o curso dos buquês. Também pretendo falar com nosso guardião adepto, e da próxima vez ele não me escapa.

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