Leitura: A História de Hepzibah, parte 2

Este fato nunca foi registrado, mas tenho indícios de que tenha sido verdadeiro, além de obviamente ser a única explicação lógica para os fatos que dispomos como reais.

Hepzibah então ergueu os olhos para o céu e um relâmpago único e maravilhoso caiu para se congelar como um clarão por cima da arena; fumaça negra começou a emanar do corpo de Hepzibah e a primeira onda feiticeira que partiu dele arrebentou as grades da arena, jogando-as em cima do público em desespero. O garuda partiu voando imediatamente.

A segunda onda de feitiçaria arrebentou o solo, seus grilhões e encheu de energia seus braços.

A terceira o reavivou completamente e destruiu os muros de contenção da arena. Nessa altura a platéia estava em fuga frenética. Em meio a destruição, Hepzibah brilhava com uma aura fraca que nunca se soube se provia de alguma divindade, mas seus olhos, eles sim, emanavam um jorro de chamas brancas, como lágrimas, como sangue, finalmente, tanto tempo depois de terem sido perfurados.

A quarta onda feiticeira abriu-se como uma flor de seu corpo e arrebentou os ossos dos guardas que vieram atrás dele (com coragem tirada sabe-se lá de onde).

A quinta purificou seu corpo e lhe deixou completamente sem poder ou força além do que ele sempre teve. Hepzibah ergueu os olhos e viu somente sua fuga lhe esperando, apesar de saber que seu destino nunca mais seria solitário e pacífico como sua vida uma vez fora.

Então Hepzibah fugiu. Fugiu da arena e da metrópole apesar dos guardas correndo em todos os cantos. Quando chegou na saída da cidade, quase não acreditou que estava intacto. Estava enxergando - em lampejos, em vermelho. Mas estava enxergando.

Por dias e noites Hepzibah cruzou Ivoire evitando as pessoas e passando longe das cidades. Enfiou-se através de uma savana árida onde imaginava que não poderia ser achado. Ele só queria... ele não sabia o que queria. Antes de querer qualquer coisa, ele precisava sobreviver. Também não sabia o porquê. Não havia nada em seu coração.