Foram suas últimas linhas.

751 D.F.: Terceiro dia de Regentes, sétimo dia.

"Chove incessantemente do lado de fora. Ainda não vi o que aconteceu à capital nos anos de minha ausência. Discordo da posição do Império em que minha integridade está ameaçada. Nesta altura da história, nada do que acontece lá pode ser entendido por um segredo. De uma prisão à outra, pouco mudou, mas ao menos agora tenho como conseguir informações dos soldados. Tenho uma audiência marcada com Aeolus daqui a dois dias para reportar minhas atividades."


Hoje, aos sete dias de Regentes do ano de setecentos e cinqüenta e um Desde a Fundação, faço destas palavras oficialmente as últimas de Ivaness Rel Barlaam, historiador da coroa. Esta arca foi iniciada há dezessete anos e a encontrei resistida a um grande incêndio num abrigo político em Tércia onde seu dono teria falecido. Entendo que ao pousar meus olhos sobre suas páginas eu estava imediatamente me expatriando.

Meu nome é Karkadann Alkyon, nasci nos novos dias de Odenheim em Capela, e estaria concluindo minha formação como um Investigador Real, o que indica que sou muito pouco mais capaz do que qualquer pessoa. Este nome está morto e será meu segredo. Apresentei-me aos marinheiros deste navio como Zelus, uma palavra de titani antigo para um guardião ou perpetrador. É o que serei, junto com um marinheiro, um carpinteiro, um trabalhador rural ou qualquer coisa que possa manter meu corpo vivo enquanto eu puder escrever.

Vamos para Ramona. Longe do continente e longe de Nelbiand eu irei levar o intuito de Barlaam adiante.

Barlaam, o prisioneiro político

Esta é a primeira entrada nesta arca após minha desventura em Rublo. Fui delatado como um homem de má-fé e um espia; minha fuga foi barrada pela Escolta Patriótica e passei cinco luas como prisioneiro político. Minha ausência foi notada pela Metrópole e a Magna Ordem dos Investigadores Reais descobriu meu paradeiro por seus próprios meios. Fui liberto, junto com alguns longinianos e um meio-djin nortista, numa ação rápida e destrutiva dos Elmos Escarlates, sem diplomacia ou ameaças. Vieram como o vento baixo antes da chuva e tomaram a cidadela-prisão de Foliot num único assalto.

Escrevo de Tércia, num abrigo protegido dentro de um prédio militar. Meus aposentos são confortáveis e frios; todos os meus escritos anteriores foram trazidos de Nova Belgrade com algum cuidado. As cartas que recebi em ambos os meus endereços estão acumuladas há anos em dois baús perto do capacho da entrada. Iria lê-las, mas a caligrafia de Bia no primeiro envelope que vi trouxe à tona memórias dolorosas e desisti de minha intenção.

Chove incessantemente do lado de fora. Ainda não vi o que aconteceu à capital nos anos de minha ausência. Discordo da posição do Império em que minha integridade está ameaçada. Nesta altura da história, nada do que acontece lá pode ser entendido por um segredo. De uma prisão à outra, pouco mudou, mas ao menos agora tenho como conseguir informações dos soldados. Tenho uma audiência marcada com Aeolus daqui a dois dias para reportar minhas atividades.