Artigo: Sobre os Ditos 'Santos da Trangressão'

Uma entre, sabe-se lá, cem pessoas consegue conservar algum controle físico sob o efeito do lieser. Essa pessoa consegue uma percepção sobrenatural e desenvolve explosões de força geomântica incríveis. A Transgressão já conheceu três destes indivíduos, todos mortos durante suas Noites de Lanterna derradeiras; diz-se que este talento, de transformar lieser em poder bruto, sempre está nas pessoas mais insuspeitas e distantes, mas que têm um desejo interno forte de ir contra tudo que está sólido, de quebrar-se para arrebentar tudo.

Chamam-os de Santos. Em êxtase, são os líderes incontestáveis das passeatas transgressionistas; sua lenda alcançou os poetas e os fez como musas para inspirá-los. Seus seres cambaleantes e fulgurantes em poder surgiram logo em palavras e quadros ao redor do mundo.

Artigo: Sobre o 'Lieser'

O lieser é um elixir aquoso que vaporiza-se em contato com a atmosfera, composto principalmente de água alquímica. A água alquímica tem várias utilizações: tóxica e levíssima, ela contraria a gravidade mantendo um estado quase líquido enquanto flutua gasosamente. Respirada, ela induz a uma letargia fortíssima; combinada com uma porção mínima e perigosa de éter alquímico contido (entro nesse assunto depois) e compostos químicos de perfumes, ela induz alucinações fortes, em viagens de panorama mental aterrorizantes. O lieser se tornou famoso entre as fileiras da Trasngressão depois que um químico fracassado cedariano perdeu a vida sintetizando a segunda versão de sua 'fórmula dos sonhos', que o enviaria por uma viagem sem fim dentro de sua própria mente.

Artigo: O Estilo Destrucionista

Eu mal considero uma coisa destas como arte, mas devo retirar meus conceitos dos meus escritos o máximo possível. O estilo pregado pelos poetas da revolução, montados na armurada da eternidade e prontos para atirar-se com fúria ao fim, é a arte na destruição. Latas de tinta, pixações, marretas e qualquer coisa que destrua e humilhe as glórias antigas são os santos salvadores dos destrucionistas. Este estilo vibra entre as camadas jovens de classe alta em Lodis, que muitas vezes arriscam o que não têm unindo-se a movimentos de destruição como a Noite da Lanterna (que é quase que uma celebração máxima destrucionista, apesar de seu propósito inicial não ter nada a ver com arte).

A obra destrucionista que não é feita propriamente destruindo algo encontra-se na poesia e na música. Esta última tem teor chanteliano, mas sempre converge pra grandes blocos de dissonância e envolvem virtuosismos demoníacos em escalas descendentes. No outro lado do compasso estão escultores que trabalham com detritos, pichadores de poesias, alquimistas cujas explosões libertam trovões maléficos e protestantes cujo prazer máximo é desafiar tudo que foi imposto para todos por séculos.

Leitura: A Transgressão e a Noite da Lanterna

O grito da Transgressão se tornou sinônimo de caos e perigo nas noites lodianas. Seus libertadores são ex-cavaleiros que desprezam a autoridade dos Elmos Escarlates e buscam libertação do mundo material, envolvidos com elixires alucinógenos e uma sinistra cultura das ruas. Eles têm laços próximos com os cavaleiros bandidos, órfãos da Ordem Pristina e das partes idealistas da Ordem de Astoreth, mas pode-se dizer que há pelo menos uma geração de idéias separando as duas facções. Enquanto os cavaleiros-bandidos estão perdidos há mais de 30 anos, só recentemente a Transgressão começou a ganhar espaço nas lendas negras dos cavaleiros que caem.

Quando um militar, cavaleiro ou soldado, torna-se desobediente ou revoltoso, ele é abandonado por Odenheim. Por "abandonado" entende-se que toda a vida, a família, os contatos e os recursos do militar são removidos e ele é forçado a deixar o país. Oficialmente, nenhuma parte do processo envolve violência, mas quando outros militares têm contas a acertar com o rebelde, é concedida uma espécie de 'carta branca' especial - muitos desses atos resultam na humilhação e na morte do exilado.

Os ex-militares que resistem ao exílio e voltam aos portões lodianos habitam os distritos fantasma construídos por Else. Estes formam o corpo de combate da Transgressão.

Quase semanalmente, a Transgressão, por meio de lideranças esparsas, se reúne na "Noite da Lanterna", em que unem suas armas em procissões destrutivas para aterrorizar a população. Eles preferencialmente vitimam bairros nobres, atirando para os ares, derrubando postes, quebrando coisas e não tendo piedade de pessoas que por acaso estejam na rua. Os poucos conflitos que já houveram entre a Transgressão e brigadas designadas para enfrentá-la foram sangrentos e não levaram a nada. O número de rebeldes só cresce com o tempo. Além do mais, a Quimera descobriu que muitos cavaleiros que ainda são leais têm amizades entre a Transgressão e penderiam para o lado inimigo com facilidade se houvesse tanta preocupação assim. Nas últimas seis luas, afora algumas perseguições quase encenadas, a Noite da Lanterna é quase uma festa livre para os rebeldes se sentirem à vontade em destruir Lodis.

O evento foi batizado por um cronista de um jornal pequeno da cidade, o 'Corrente'. O termo ganhou popularidade entre os universitários lodianos (muitos dos quais participaram da Noite da Lanterna - a primeira delas juntou muita gente que não tinha nada a ver com os militares, uma passeata de destruição só pela revolta, sem alvo, somente ondas de ódio se espalhando para lugar nenhum) e chegou rapidamente à própria Transgressão, que passou a chamar suas guerras dessa maneira.