A terra.

A terra. Senti aquele sentimento de casa em Rublo. Eu posso ter entendido com a mente que Odenheim se partiu em dois pedaços, mas meu espírito ainda não aceitou a idéia. Eu fui para um país estranho ao mesmo tempo que voltei para minha casa, vi meu povo, vi os céus de Odenheim. Aportamos próximos ao estreito na costa oeste, onde eu estive muitas vezes ainda jovem andando com meu bando de amigos em celados. Setenta anos atrás, talvez? Era um tempo, sem dúvida, melhor. Muita coisa que deixou o mundo pior ainda não tinha acontecido, e eu posso dizer isso de cima de tantos anos de vida porque posso mesmo. As pessoas hoje estão vivendo cento e dez, cento e vinte anos em média. Eu pretendo viver para completar um século e meio, se possível, e espero que a humanidade me surpreenda mais uma vez. Que surjam heróis, que surjam líderes, que surjam iluminados e filosofias que nos façam entender, de uma vez por todas, que competir com outras raças não tem muito a ver com viver melhor.

Estamos indo, numa condução quase improvisada puxada por celados velhos mas dignos, para nossas novas casas às beiras das plantações. As pessoas estão cheias de esperanças, falam e cantam alto, talvez para afastar velhos fantasmas. Comigo, eu apenas penso no que pode ser útil para grafar num livro, de preferência um que seja impresso cópias suficientes para ficar pra sempre. Pra sempre. Porque pouco sobra de um homem a não ser o que ele lega.

Artigo: Serretes

Uma grande ave, de plumagem púrpura nas asas e verde escura próximo às patas, com proeminentes garras em forma de meia-lua. Perigosa e agressiva, seus mergulhos em bando são conhecidos como uma das ameaças mais letais do Belvedere. Bandos de serretes atacam qualquer um que entre em seu território, que varia de acordo com a disponibilidade de caça. Eles se alimentam de pequenos répteis e de ovos de pássaros menores.

Serretes fazem espetáculos nos céus do Belvedere, brincando de fazer várias formas. O recomendado é manter-se longe. A forma mais fácil e mais imprudente de matar um serrete é golpeá-lo enquanto este mergulha. Se o golpe falhar, é provável que o serrete arranque fora o braço do infeliz. Meninas compromissadas são comparadas a eles nas cidades próximas: você pode olhar, mas não pode tocar.

A força do mergulho do serrete é prezada pelos dervixes, que já assistiram companheiros serem derrubados de encostas após receber o golpe no peito. Um ovo de serrete, pego no ninho, vale 400 rúpias nos mercados calcedonianos. Um serrete treinado colabora apenas com o seu dono e é extremamente tímido.

É incomum avistar serretes fora dos territórios do Belvedere, mas com a recente temporização (o processo de abertura da redoma e caos climático), eles vêm fugindo cada vez mais para áreas mais ao sul, causando o caos por onde têm passado. Curiosamente, os serretes fugitivos parecem ter formado um único bando coeso de mais de cem aves. É impressionante.

Artigo: Azdares

Tudo o que se diz sobre a natureza violenta e cruel dos azdares é mentira. Eu tenho experiência pessoal com todas as três raças que conhecemos e ao longo dos anos percebi que os azdares são sociáveis e gregários, além de extremamente úteis se estimulados das maneiras corretas. Os azdares se tornaram famosos no mundo inteiro por causa de seu uso como montaria para as Legiões Triunfantes de Meredith. Hoje desbancaremos este mito e mostraremos os azdares como eles são. Para este artigo tive ajuda do nobilíssimo Lorde Volos, ex-legionário e atual criador de coronas e diabos-verdes.

O corpo do azdar é semelhante a uma grande pipa, com prolongamentos visíveis nas asas e uma cauda chata e longa. A maioria dos azdares tem músculos aparentes e, muitas vezes, protusões ósseas visíveis através da pele - quando um azdar se fere, seus ossos crescem de maneira diferente para suprir a área maculada. A cabeça do azdar é como uma flâmula, um triângulo invertido com um vinco no meio, criando a ilusão de dois chifres em forma de V.

Existem três espécies de azdar: os coronas (Darzii coeur), os diabos-verdes (Darzii diablevert) e os alados-de-Axúria (Darzii axuriensis ou Darzii vulgaris), em ordem de raridade.

A má reputação dos azdares entre os cedarianos se deve possivelmente os alados-de-Axúria. De cor de granito e olhos verde-claros ou dourados, sua natureza é extremamente pacífica. Entretanto, o aroma da maioria dos compostos alquímicos (a poção Chiron inclusa) lhes excitam e muitas vezes eles se atiram violentamente contra o possuidor dos compostos na intenção de engolir os frascos inteiros. Abandonar os frascos raramente é uma opção; só serve para atrasar o azdar; ele pára para engolir os compostos e depois persegue o seu possuidor na intenção de conseguir mais.

Como o sangue dos alados-de-Axúria é um ingrediente alquímico útil na assimilação de alguns pós específicos, muitas vezes alquimistas cedarianos posicionam compostos distantes uns dos outros para cansar os azdares antes de atacá-los com virotes envenenados. Esta prática cruel vem sendo executada há bons vinte anos nas proximidades de Axúria. Existe uma lei proibindo o ato, mas, como muitas coisas em Cédara, não passa do papel pois na prática não há quase fiscalização e penas para os infratores.

Vale ressaltar que o vôo, apesar de ser a forma de locomoção natural dos azdares, os cansa rapidamente: para erguer seu corpo pesado eles precisam de muita energia. Após aproximadamente vinte minutos de vôo, são raros os azdares que conseguem prosseguir voando, sobretudo com um cavaleiro no lombo.

Enquanto os alados-de-Axúria são perigosos e agressivos quando excitados, os diabos-verdes são praticamente animais de gado. Enormes, passivos e reticentes, eles quase não têm capacidade de vôo. Os ovos das fêmeas são uma iguaria culinária cedariana; alguns criadores conseguem os raríssimos diabos-verdes machos (eles têm uma proporção de vinte fêmeas para um macho) e os tornam reprodutores. Além disso, os genes do diabo-verde são relativamente fracos; os filhotes híbridos de diabos-verdes com alados-de-Axúria, chamados 'jervís', são resistentes e relativamente domesticáveis, algumas poucas vezes podendo ser usados como animais de montaria.

Os diabos-verdes são encontrados, em estado selvagem, em pradarias amplas onde conseguem se alimentar de vegetais e pequenos animais silvestres. Passam a maior parte do tempo hibernando; saem para alimentar-se durante as enchentes da Lua dos Cetros (quando muitos animais ficam encurralados pelas armadilhas das chuvas). São pacíficos e nem um pouco teimosos.

Finalmente, os coronas têm coloração vermelha-escura, garras cor-de-ferro e olhos castanhos expressivos. São maiores e mais musculosos que os alados-de-Axúria, apesar de ainda serem menores que os diabos-verdes. Voam rápido e praticamente não sentem dor. Estimulados com alguns elixires alquímicos específicos pelos quais têm muito apetite, são extremamente obedientes e territoriais, lutando ao lado de um cavaleiro humano com grande efetividade.

A característica mais interessante dos coronas é a capacidade natural deles de produzir uma descarga elétrica pelas patas. Esta descarga não é usada ofensivamente por eles; são usados de uma maneira muito mais fantástica: eles podem reviver seus cavaleiros usando o choque diretamente contra seus tóraxes, mesmo através da armadura. As vidas de muitos legionários já foram salvas pelos coronas.

Diferente da maioria das conjurações, a natureza mística dos coronas os permite absorver com facilidade qualquer concoção destinada a humanos e obter dela efeitos muito parecidos, senão iguais. Seu metabolismo absorve mais facilmente os princípios ativos das poções, compensando pela sua massa, que é muito maior que a de um humano.

Artigo: A Espada Zweihander da Legião Triunfante

A gigantesca espada Zweihander, prodígio da forja industrial, pode ser considerada uma invenção do Duque Negro. Em seus devaneios, o terrível aristocrata imaginou cavaleiros com armaduras de placas montando bestas voadoras e brandindo espadas titânicas. O advento das Legiões Triunfantes, enquanto capricho, introduziu um sentimento novo nos corações dos ivoreanos: o terror. A visão da sombra de dezenas de azdares erguendo-se no horizonte, para depois cair sobre os batalhões, num ataque derradeiro e suicida, marcou todos que sobreviveram à Guerra da Ilha Sagrada.

Tratando-se de características físicas, a Zweihander é uma espada feita para matar, de preferência de uma maneira genocida. Com mais de dois metros de lâmina e um cabo de quase um metro, a espada favorece golpes muito amplos e, apesar de poder ser usada em solo, é muito mais efetiva no dorso de uma grande besta voadora como os azdares e os coronas. Oferecendo pouca ou nenhuma capacidade defensiva, ela não possui uma guarda (apesar dos tantos golpes sucessivos acabarem por talhar dentes no comprimento da lâmina). Sua ponta possui uma perfuração mortal para ser usada em carga, como uma lança de justa, mas seu golpe principal é o de balanço.

Poucos modelos diferentes desta espada foram manufaturados, mas é grande a capacidade de modifiação de uma espada deste tamanho. Ela pode ser novamente talhada para tornar-se praticamente qualquer coisa com relativa facilidade. A espada Zweihander também entrou no imaginário coletivo os odenianos como símbolo de heroísmo. Não faltam jovens que se dedicam ao manejo desmontado destas espadas, ou de réplicas dela.

A representante primária da espada zweihander é a Hauteclaire. Estas espadas foram as primeiras forjadas para os cavaleiros da legião triunfante. Os primeiros azdares não conseguiam levantar vôo portando cavaleiro e espada – seu peso, desequilíbrio e volume atrapalhavam o movimento das asas da besta. Naquela época originou-se o costume em que o cavaleiro levanta vôo sem a Zweihander, depois passa em rasante sobre uma torre ou um lugar alto, onde um escudeiro lhe espera com a espada erguida; então o cavaleiro toma a espada e parte para a guerra, na direção do horizonte. Esta espécie de ritual prosseguiu até mesmo depois que os azdares adquiriram maior força, com o desenvolvimento da criação dos filhotes e a descoberta da raça dos Coronas, azdares com escamas de tonalidade vermelha escura.