Artigo: Os Vestra

Os vestra, seres agraciados com um contato quase físico com os Altíssimos, existem discretamente entre o alto clero maevita. Poucas pessoas sequer sabem de sua existência. Em seu estado puro e mais poderoso, eles formaram uma espécie de ordem de elite nas guerras lúmicas que findaram a segunda civilização. Hoje, passadas muitas gerações, eles são uma espécie de representantes físicos de deidade, entesourados pelos hierofantes e cardeais como relíquias sagradas de um tempo em que Maeve não era tão ausente.

O grande poder dos vestra é a capacidade de realizar milagres que eles mesmo desconhecem, e a capacidade de criar mandalas originais, fazendo a energia divina que permeia tudo materializar-se e colapsar, causando grandes estragos. Eles também são muito resistentes à feitiçaria e boa parte deles é completamente fanática em suas crenças, apontem elas para o lado que for.

Até a puberdade (que acontece ao redor de 12 anos), o vestra é bastante parecido com um huma; diferenças são cabelos muito finos e frágeis, pele mais clara que o normal, unhas de aspecto levemente metálico e veias aparentes de cor prateada. Eles, muitas vezes, são marcados no nascimento com símbolos de proteção que, muitas vezes, são permanentes.

Quando atinge uma certa idade, o vestra passa por uma mutação dolorosa em que seu rosto ganha aparência vítrea e consistência quase metálica, ou cristalina. Ele não brilha absolutamente nada, mas é opaco somente porque reflete-se muitas vezes dentro de si mesmo. A face torna-se uma máscara que lhes inflinge certa dor quando movem os olhos e expressam-se: por isso, os vestra costumam ter poeira reluzente de si mesmos nos cantos dos olhos, como vidro esmagado. Todos os vestra crianças temem e anseiam ao mesmo tempo por sua transfiguração, que é uma manifestação de poder puramente divino. Muitas vezes o 'raio de vidro' desce em direção às costelas e transfigura um braço, ou uma parte do tronco; em outras, a mutação agonizante faz o vetra ter a cabeça de um 'elefante', ou faz seu rosto tornar-se uma máscara surreal e disforme, sem expressão ou com formas bizarras. Uma comitiva de adeptos de alto escalão sempre vela pelo vestra quando ele está se transformando - geralmente aos berros. Muitos vestra pedem para serem mortos se vierem a adquirir aspectos bestiais.

O resto de seus corpos segue de perto sua ascendência huma. Hoje em dia, é possível que só existam vestra homens, já que o nascimento de uma menina vestra é uma ocasião raríssima. É também significante o número de vestra que nascem com deficiências, não podendo andar ou mover os braços. O filho de dois vestra de geração fraca nasce com a fronte de prata, mas morre nos seus primeiros dias, incapaz de respirar por si próprio. Por outro lado, o vestra saudável, filho de um outro vestra com uma huma, pode alcançar três séculos de vida se não contrair nenhuma doença.

Movidos por uma espécie de luxúria ancestral depois que amadurecem, muitos deles são indisciplinados e selvagens; mesmo os mais meditativos têm rompantes de instinto. O sangue vestra é forte; um filho de um vestra com uma huma normalmente é vestra, mas é difícil que a huma engravide.

Aparentam pesar bem menos que humas de seu tamanho. São frágeis de compleeição, e dizem que seus ossos são ocos. Por outro lado, quando pisam o chão, pesam um exército, muitas vezes mais do que deveriam, numa mostra clara de misticismo. Eles podem controlar este efeito (eles o chamam 'Manifestar') de maneira limitada, mas para eles natural como andar. Eles também manifestam um segundo efeito mais incrível ainda: eles conseguem tangibilizar suas almas para fora de seus corpos, principalmente próximo aos dedos das mãos, formando manipuladores como garras, cordões e ganchos feitos de bolas de luz efêmera. Este efeito, para a maioria dos vestra, é frágil e lento, além de perigoso. Eles também têm o controle de suas almas para abri-las à influência das luas quando quiserem, bem como fecharem-nas. Eles não podem, contudo, evitar ficarem enluados depois que sofrerem suas Maldições Ancestrais simplesmente fechando suas almas.

Suponho que os vestra tenham ainda um terceiro poder: tocando seus dedos na testa de uma pessoa, eles seriam capazes de enevoar sua mente e fazê-la esquecer de eventos recentes. Esta afirmação, faço baseado em histórias que ouvi, e pode não corresponder à realidade.

Os vestra têm uma mentalidade que lhes capacita a deduzir uma Mandala Prima sem sequer conhecer seu Altíssimo. Eles conhecem as Mandalas como uma linguagem, não como desenhos. Muitas vezes o vestra fica surpreso ao conhecer o patrono dos milagres que invocava há décadas. Eles são paladinos naturais sem nunca terem sido feiticeiros, e muitos são obsessivos em suas crenças, repetindo orações e poesias incessantemente. Em Ivoire, os vestra têm a mentalidade que são criaturas místicas e privilegiadas, e que têm o dever de manter as rédeas da história sob controle. Eles são os mais terríveis e assustadores, fanáticos que se consideram perfeitos sob os olhos da Deusa.

Os vestra batizam-se como Oradores de um substantivo inspirador (Orador da Clareza, Orador do Silêncio, Orador da Areia), e normalmente incorporam o nome da lua sob a qual nasceram (como "Orador do Silêncio, Onfalian"). Os adeptos usam o pronome 'Venerável' para referirem-se a eles. Vestra rebeldes ou fugitivos escolhem nomes humanos, mas eles geralmente são péssimos para fazê-los sem despertar suspeitas: muitas vezes são incapazes de aceitar nomes que julguem comuns, e escolhem nomes aristocráticos ou nomes de santos reconhecidos. Vestra que se tornam adeptos geralmente criam derivações de seus cargos para tornarem-se seus nomes, como 'Marcard" para Cardeal, "Ispolis" para Bispo e semelhantes.

Vestra são naturalmente vaidosos e ofensivos romanticamente, muitas vezes quase violentos. Os mais fanáticos tendem a ter uma preocupação neurótica com os outros, que sempre acontece em níveis extremos mas nunca ameaça a vida do vestra: eles têm um instinto de sobrevivência tão grande quanto seu instinto de reprodução. Ouvi uma vez uma história em que um vestra inconsciente teve seus poderes disparados em defesa de sua vida, como se o controle destes viesse de outro lugar, de outra mente.

As armas de suas grandes guerras do passado, espécies de adagas deíficas de gume duplo, acompanharam gerações e chegaram até os vestra de hoje conservando seus poderes quase épicos, quase sempre abençoadas por mais de seis Altíssimos. Os vestra nascem com uma noção interna de duelos com estas adagas, muito diferente de qualquer luta vista de outra forma em Natal, uma forma de combate baseada em uma postura ereta com a adaga segura entre dois dedos, que salta para golpes rápidos e embrutecidos antecedidos por orações. Imagino que este seja uma espécie de presente oferecido pela Deusa que não lhes foi tomado com todo o tempo que se passou.

Existem registros que indicam que a existência dos vestra foi revelada ao povo uma vez na história de Ivoire, e outra na história de Odenheim. Houve caos enquanto todos quiseram as bênçãos do ser divino, e após o tumulto e o desaparecimento do vestra, todos aparentemente os esqueceram. Talvez tenham sido vítimas de uma versão maior do poder que eu suponho que tenham.

De qualquer forma, pouca gente sabe mais do que isso sobre os vestras. É possível que mesmo eles saibam pouco sobre eles mesmos, ou saibam somente o que lhes foi ensinado. Lendas antigas e quase desconhecidas falam que, onde hoje é Veruna, um dia existiu um grande estado vestra, uma regência independente com castas de guerreiros divinos, e que antes deste estado vestra lá existira uma habitação de anjos, e que aquelas terras seriam as mais sagradas deste mundo. Em Longinus, hoje, muitos vivem enclausurados em um palacete em Margrave, fechado ao sol e ao povo, chamado 'Ondécima Casa' ou 'Casa Onfalian'. Não se sabe de seus atos ou passado em Faris, Odenheim e Cédara.