Leitura: Escritos de Iariq, 3k A.F.

Iariq foi um dos Imaima, os quais chamamos altos-djins, que habitou o norte do continente em algum ponto do terceiro milênio A.F., uma rara testemunha que temos da vida e sociedade na Segunda Era, descritiva de djins muito diferentes de nossos arquétipos contemporâneos. Presto-me à transcrição de algumas de suas traduções mais famosas.

(...) Em glórias à Maɣv, a Sagrada Provedora ao Seu Magistrado e ao Altarcado em perfeita jurisdição de suas Armas, em glória do que a que virá no próximo Dia e para sempre, reúno meu conhecimento perante vós para escrever da natureza dos Imaima, de nossa era o povo mais glorioso e temente e puro - que o fogo nunca deixe de fluir por nossos dedos. Diferente dos povos de Dardanos e Ilus nosso sangue corre branco e puro, quanto mais puro clareando de vermelho à cor das Luas, a mais nobre de todas - que nosso sangue nunca deixe de ser viscoso e como mármore, e nunca deixará, sob a graça da Provedora e de Seu Magistrado. Que na guerra deixemos quem pousar os olhos em nós por terra, e que no Dia sejamos reconhecidos, com certeza, como as mais gentis das criaturas.

Cobrimos nossos olhos e rostos perante os sóis rutilantes, que despertam o mundo e nos põem à caça. Cobrimos nossos corpos, vulneráveis e frágeis perante suas luzes. Durante o Dia, chamado pelos Magistrados, é ímpio aquele que fere ou permite ser ferido por um semelhante, Imaima ou não. Se surge o sol, a mão que segura o galho apontado para o coração do mais odiado inimigo deve ser recuada. O Dia é o tempo da caça sagrada e do alimento sagrado. Finda o dia, torna-se à guerra, aos caprichos, à peleja, à vida vulgar à qual todo o Povo Escolhido tem amor.

Diz-se muito de um Imaima pelo que não se pode ver e ouvir dele; sua pele será sempre limpa e sua fragrância será única - seu próprio cheiro como Imaima, e os cheiros de seu ofício ou escolha. Os Imaima podem sentir o passado dos seus pelo olfato; o cheiro de lágrimas, ou suor, ou sangue, ou o cheiro das águas de tal ou tal lugar. Quando vem o Dia, espera-se uma expressão vigorosa no olfato, uma auto-afirmação de todos os Imaima verdadeiramente honrados, que, como o Destino e a Provedora previu, estará preparado para tal. Por isso, Imaima verdadeiramente honrados, como o Destino previu, mantém-se impecavelmente limpos tanto quanto puderem e prontos para a chegada do dia.

Imaimas da mesma família que nutram afinidade um pelo outro, ou Imaimas que encontrem-se pela vida, ou Imaimas muito parecidos ou irmãos ou primos estão em Paridade. Um é o outro para bens e males recebidos, para o agradecimento e a vingança. Terão confiança sacra e plena um no outro, e nunca poderão trair-se. Andarão lado a lado na fortuna e na tragédia. Os votos de Paridade são feitos perante um Magister, mas a promessa pode ser feita a qualquer momento e cabe ao Imaima julgar seu candidato a irmão. (...)