Artigo: O Estilo Chanteliano

O estilo arquitetônico odeniano mais expressivo durante estes sete séculos desde a fundação do país foi o estilo chanteliano antigo. Desde o princípio de Oden, os peregrinos viajantes de Outros Mundos, principalmente os artistas, buscaram um retorno às memórias de seus lugares de origem, com monumentos enormes, grandes castelos, estátuas que levam eras para serem construídas e padrões intrincadíssimos esculpidos em metal, muitas vezes metais preciosos. Fascinados com a abundância de ouro em Natal, os ourives de Outros Mundos legaram muitas relíquias maravilhosas ao povo de hoje, muitas das quais guardadas em museus e palácios.

A palavra que resume o estilo chanteliano é 'grandioso e abundante'. É um estilo que celebra o apogeu de uma civilização, a fartura e a extravagância; formas sinuosas e primores esculturais são sua característica mais marcante, bem como o uso de metais preciosos para quase tudo, desde muralhas e paredes até estandartes e armas. Os artistas que seguem o antigo movimento chanteliano pensam sempre em impressionar com proporções.

O Palácio Oceânico, casa do Templo de Lodis e do Conselho Real Odeniano é um exemplo expressivo de arquitetura chanteliana, com torres gigantescas, um relógio que pode ser visto a quilômetros de distância, e um tamanho até hoje desconhecido por ter sido construído mar adentro. Boa parte de suas torres fora feita de prata; muitas de suas lanças e espigões têm pontas de diamante e prata. Todas as paredes internas são decoradas com pinturas harmoniosas que ocupam todo o espaço disponível. As paredes externas são, em sua maior parte, esculpidas em baixo-relevo com figuras míticas de heróis e monstros, reais ou imaginados.

As espadas de cerâmica da velha-guarda odeniana também são um exemplo de estilo chanteliano, na medida que procuram imitar padrões desenhados no metal com cerâmica alquímica e seguem, bem de perto, os padrões estéticos da época.

A música daquele tempo e de muitos compositores contemporâneos também pode ser considerada de estilo chanteliano. As músicas chantelianas usam harmonias simples e tocantes em formações orquestrais imensas. Muitas vezes essas músicas têm temas que se repetem e interlaçam. A maior parte das peças individuais é de grande duração - muitas atingem mais de quatro horas ininterruptas - e elas eram compostas sobretudo para celebrações como nascimentos de herdeiros, coroações, cerimônias de cavalaria e condecorações militares.

A ópera da Tragédia dos Djins, uma das mais encenadas nos teatros odenianos, pode ser considerada música chanteliana com suas pouco mais de duas horas de duração e seu dueto de cantores com temas próprios.

Sobretudo, o estilo chanteliano prospera através das eras e é muitas vezes imitados por artistas estrangeiros. Sobreviverá enquanto durar o Palácio Oceânico e todas as obras por ele inspiradas.

Artigo: A Cidade de Wolfram

Wolfram é uma das mais setentrionais cidades de Odenheim, no extremo norte junto com Paris, casa da maior parte dos nortistas, lar de uma aristocracia esquecida e tristonha, sustentada por taxas e completamente improdutiva salvo uma armoraria levada por um único armeiro centenário que vez ou outra presenteia a capital com uma espada superior. Wolfram luta para manter-se presente e atual num país onde os aristocratas cada vez mais perdem o valor perante a Quimera.

A aristocracia de Wolfram é formada pelas casas Hallein e Mauthausen, longas aliadas que hoje em dia são consideradas uma só família. Enquanto bons governantes, vários Mauthausen se tornaram feiticeiros durante a guerra. Conta-se que, após expulsarem os ivoreanos de suas terras, fundaram uma vila nas colinas nevadas de Isfeld onde pudessem viver em paz com seus pecados. O pavor contra os feiticeiros da Casa Mauthausen foi grande o suficiente para que o povo unisse forças para forjar uma espécie de gládio de proteção (O Gládio Místico de Fulram). Segue um extrato dos textos de Granville acerca do assunto.

"As forjas do Norte setentrional de Odenheim começaram a produzir estes gládios copiados dos originais lodianos quando houve (ao redor de 730 D.F.) um surgimento drástico de feiticeiros na casa Mauthausen, que começaram a ameaçar a segurança dos condados nobres. Naqueles anos, retirou-se muita prata das minas nevadas próximas a Páris e Wolfram, e quase todo o estoque foi gasto na composição das espadas Fulram (cujo nome foi tirado de uma prece antiga à deusa contra os feiticeiros, vere stratos fugit fulram).

De tamanho e peso pequenos, muitas destas espadas eram carregadas pelas filhas dos aristocratas, às quais eram ensinados os fundamentos da luta com espadas, para que elas pudessem se defender de raptos e ataques místicos. Como os feiticeiros muitas vezes atacavam a partir de uma posição oculta, firmou-se o hábito de atar uma lâmina de espada Fulram à uma das tranças da menina, para que a mágica pudesse ser defletida, mesmo pelas costas."


Dos textos de Granville conclui-se que os Mauthausen que não se exilaram caíram na criminalidade para sobreviver. De fato, houve um pedido de socorro feito de Wolfram em 714 D.F. que nunca foi respondido. Diz-se que os Mauthausen de Isfeld vieram em socorro do povo mais uma vez contra os seus, e destruíram ou levaram para a cidade deles todos os dissindentes. A casa Hallein hoje em dia detém todos os gládios Fulram.

Neva muito em Wolfram; durante a maior parte do ano, os mares ao redor de suas estepes ficam cobertos por gelo; o solo fica enregelado e a grama não nasce; por isso, qualquer atividade primária produtiva é desencorajada pelas autoridades. Os Mauthausen foram grandes joalheiros e caixeiros-viajantes no passado, mas a tradição está esquecida desde o início da guerra. Os Hallein são uma família grande e nobre de nascença, de uma etnia misturada com os ivoreanos, de cabelos escuros e lisos. Suas várias ramificações de famílias também têm cabelos pretos, indicando a prevalência dos genes ivoreanos.

Os odenianos de cabelos pretos são chamados 'nortistas' pela maioria das pessoas justamente por causa dos Hallein. Diz-se que a ascendência ivoreana deles vem da longa estada de aristocratas de Yansar durante um cerco de rebeldes ao redor do século 4. Os aristocratas ivoreanos abrigaram-se diplomaticamente em Wolfram por mais de 140 anos. Muitos casaram-se com as nobres locais e tiveram filhos mestiços. A cor parda da pele se dissipou ao longo das gerações, mas os cabelos negros permaneceram até hoje entre a maior parte da população nobre de Wolfram.

Leitura: Câncer em Capela

Isto é parte do relato de um adepto capelita que presenciou a retomada feita por Meredith na cidade com o prometido possuído de Câncer.

" (...) Os pardos têm um código que rege a maneira como eles guerreiam: eles matam civis. Não de maneira 'acidental' ou 'incidental'. Matam civis ordenadamente, oferecendo-lhes perseguição e morte rápida com tropas de solo, ou tiros e morte rápida com arilharia vinda da costa. Poupam os adeptos com medo de ofender Maeve quando os avistam e identificam. Interrompem os tiros e despacham tropas de solo para capturar, prender e desabilitar o sacerdote. Como eu. Privam-nos de morrer junto com nosso povo e fazem-nos vê-los matando a todos.

Para os pardos, que têm uma cultura ancestral de guerra, combater é um aprendizado, tanto como ler livros. Não nos atacam idiotas armados tampouco aldeões amedrontados. Atacam-nos homens inteligentes que sabem o que estão fazendo e reagem a qualquer mudança.

Naquele dia estavam todos ansiosos. Não pelas próprias vidas, mas ansiosos com curiosidade quase acadêmica. Meredith viria com o incarna retomar Capela, e eles seriam os que estariam lá para defender o território. O primeiro ataque de incarna havia sido nas Ilhas Sagradas e obtivera resultados espetaculares, mas eles não sabiam disso. O Império Ivoreano havia impedido esta informação de se alastrar e restava neles uma dúvida: como iria vir (voando, pela água, por solo), e como poderia ser morto (com tiros, lanças, milagres).

Ocupando Capela estavam quase quinhentos homens densamente armados, com boas munições e lanças consagradas, além de duas naus encouraçadas ivoreanas, a Nau Obi e a Nau Biblos, mantendo nossa casa e fortaleza sob canhões e ainda terminando de derrubar o que nosso povo levantou ao longo de séculos. Nos prenderam como reféns nos postos de vigilância (hoje chamados Monte Vigílio) e nos deixaram com uma vista privilegiada do que estava acontecendo. Mal nos falávamos. Nossos olhos estavam presos em suas formações.

O ataque estava atrasado dias segundo o que a inteligência ivoreana previa. Quando virou uma fase da lua, a comunicação dos batedores e helicópteros estava cortada com os rádios dos ocupantes de Capela. Quando começaram a pensar em prosseguir, a terra começou a tremer.

Uma coluna de luz fez surgir um ser alado sobre a Nau Biblos, enquanto uma tempestade distante que se abriu revelou a frota odeniana chegando por mar. O ser repousou no ar evocando a efígie luminosa de Câncer, uma mandala que tomou os céus em luz. Não houve tempo para pânico na nau. Os ivoreanos em terra viram aquela luz descer do céu como uma coluna de fumaça e a tripulação já estava morta, consumida por luminosidade, por dentro de seus corpos. A luz jorrava para fora de suas bocas e olhos como se fossem djins feridos e retornava às asas do incarna. O corpo do prometido mal era visto no meio da torrente de luz que ia, tomava vidas em massacre, e voltava. Pior. Era luz, luz divina. Antes de prosseguir para a Nau Obi, o prometido fez de uma das asas uma espada de centenas de metros e golpeou transversalmente a Nau Biblos, a explodindo com um único impacto de som incrível que incinerou os mortos e levou as vidas das tropas que vinham em carga contra ele.

Imediatamente, a Nau Obi começou a recuar e o incarna voou para cima da cidade. Nesta altura já havia fogo aliado vindo da frota impedindo o avanço das fragatas de guerra ivoreanas, e a infantaria aliada com brigadas da Pristina invadia Capela por terra, aproveitando-se do terror dos ivoreanos para libertar os sobreviventes (como nós).

Não houve sequer um golpe de espada naquela noite, pois com um tremular de suas asas o incarna ceifou os soldados que já desejavam estar mortos há muito tempo. (...)"

Artigo: Sobre Prometidos e Incarnas

Tratarei aqui somente de fatos, e não abordarei histórias fantasiosas criadas por mentes oprimidas pela guerra, nem apoiarei discursos de governantes tomados pela soberba do poder, levantando idéias falsas. A profecia dos incarnas de 696 D.F. jogou os países uns contra os outros e está sendo nossa ruína até hoje. É possível que, se Rublo não tivesse atirado fronteiras afora suas riquezas, Odenheim moveria uma invasão em massa para 'recuperar o território perdido' com o auxílio de seus adeptos de Câncer.

São os incarnas conhecidos até hoje: Iblis, no Planalto de Lorena; Câncer, a norte de Céus Partidos; Ômega, próximo ao templo de Asperi; e Shu, quase diretamente sobre Margrave.

Não existe o processo de submissão para um incarna. Uma vez encontrado e chamado, o espírito deformado projeta sua Mandala Prima imediatamente - me disseram que parecem rodas dentadas ou rosas com espinhos. Ao que tudo indica, o incarna, a estrela argêntea, é uma estrela serva da guerra. Todos os domínios encontrados pelos adeptos que foram levados à sua luz provocavam a destruição, a desgraça, a miséria.

Os adeptos encontraram duas maneiras de usar o poder do incarna. A primeira delas é aprender suas orações como fariam com qualquer altíssimo. O poder dos milagres do incarna é claramente superior e mais perigoso, superando até mesmo a destruição provocada pela maioria dos feitiços a não ser aqueles lançados pela união de um grupo de hereges.

A segunda maneira, equivalente a invocar o avantesma de um altíssimo puro, é encontrar o 'prometido' do incarna. O prometido é uma pessoa que nasceu após a estrela surgir, que tenha sangue forte, e que tenha nascido fisicamente sob a estrela (como Keshal de Lorena, que nasceu num campo de batalha onde hoje é o Palácio de Iblis) ou em conjução astrológica com sua luz. O incarna foi uma das armas de guerra mais poderosas que o mundo já viu. O incarna de Câncer possibilitou a Dário Meredith alterar o destino de uma guerra que já estava praticamente perdida, e muitas vidas de jovens foram perdidas até que o prometido fosse finalmente achado pelos astrônomos odenianos.

O incarna pode manifestar-se em qualquer pessoa de sangue nobre quando invocado - basta que a pessoa engula um fragmento da estrela, facilmente invocado pelos adeptos que conhecem o procedimento. O incarna desperto em um corpo que não é o de seu prometido tem apenas uma parte pequena do poder total, que mesmo assim pode ser devastadora, como o cardeal Bran possuído por Câncer que incendiou o Palácio Oceânico, e como o hierofante Ludgast de Margrave que, possuído por Shu, derrotou Rama, líder do clã feiticeiro Fafnir. É comprovado que o fantasma do incarna sofre quando invocado em um corpo que não é o do prometido (principalmente quando a pessoa nasceu antes da Profecia), e por isso, que o incarna abandona o corpo da pessoa o destruindo pouco depois de possuí-lo, levando seu espírito junto.

A invocação do incarna empalidece qualquer avantesma. O prometido sobe nos ares, erguido por uma força fantasmagórica, e de seu corpo crescem asas vermelhas e translúcidas, maiores que o mundo, vistas de longe como colunas titânicas de fumaça. O céu parece cair quando o prometido se move e a terra treme quando ele grita; pessoas morrem, consumidas por dentro, quando ele as toca e muitas vezes, o prometido não precisa sequer tocá-las: seu olhar faz sair da terra aguilhões gigantescos de pedra, e suas mãos fazem cair dos céus relâmpagos maiores do que os de Buriash.