Leitura: Câncer em Capela

Isto é parte do relato de um adepto capelita que presenciou a retomada feita por Meredith na cidade com o prometido possuído de Câncer.

" (...) Os pardos têm um código que rege a maneira como eles guerreiam: eles matam civis. Não de maneira 'acidental' ou 'incidental'. Matam civis ordenadamente, oferecendo-lhes perseguição e morte rápida com tropas de solo, ou tiros e morte rápida com arilharia vinda da costa. Poupam os adeptos com medo de ofender Maeve quando os avistam e identificam. Interrompem os tiros e despacham tropas de solo para capturar, prender e desabilitar o sacerdote. Como eu. Privam-nos de morrer junto com nosso povo e fazem-nos vê-los matando a todos.

Para os pardos, que têm uma cultura ancestral de guerra, combater é um aprendizado, tanto como ler livros. Não nos atacam idiotas armados tampouco aldeões amedrontados. Atacam-nos homens inteligentes que sabem o que estão fazendo e reagem a qualquer mudança.

Naquele dia estavam todos ansiosos. Não pelas próprias vidas, mas ansiosos com curiosidade quase acadêmica. Meredith viria com o incarna retomar Capela, e eles seriam os que estariam lá para defender o território. O primeiro ataque de incarna havia sido nas Ilhas Sagradas e obtivera resultados espetaculares, mas eles não sabiam disso. O Império Ivoreano havia impedido esta informação de se alastrar e restava neles uma dúvida: como iria vir (voando, pela água, por solo), e como poderia ser morto (com tiros, lanças, milagres).

Ocupando Capela estavam quase quinhentos homens densamente armados, com boas munições e lanças consagradas, além de duas naus encouraçadas ivoreanas, a Nau Obi e a Nau Biblos, mantendo nossa casa e fortaleza sob canhões e ainda terminando de derrubar o que nosso povo levantou ao longo de séculos. Nos prenderam como reféns nos postos de vigilância (hoje chamados Monte Vigílio) e nos deixaram com uma vista privilegiada do que estava acontecendo. Mal nos falávamos. Nossos olhos estavam presos em suas formações.

O ataque estava atrasado dias segundo o que a inteligência ivoreana previa. Quando virou uma fase da lua, a comunicação dos batedores e helicópteros estava cortada com os rádios dos ocupantes de Capela. Quando começaram a pensar em prosseguir, a terra começou a tremer.

Uma coluna de luz fez surgir um ser alado sobre a Nau Biblos, enquanto uma tempestade distante que se abriu revelou a frota odeniana chegando por mar. O ser repousou no ar evocando a efígie luminosa de Câncer, uma mandala que tomou os céus em luz. Não houve tempo para pânico na nau. Os ivoreanos em terra viram aquela luz descer do céu como uma coluna de fumaça e a tripulação já estava morta, consumida por luminosidade, por dentro de seus corpos. A luz jorrava para fora de suas bocas e olhos como se fossem djins feridos e retornava às asas do incarna. O corpo do prometido mal era visto no meio da torrente de luz que ia, tomava vidas em massacre, e voltava. Pior. Era luz, luz divina. Antes de prosseguir para a Nau Obi, o prometido fez de uma das asas uma espada de centenas de metros e golpeou transversalmente a Nau Biblos, a explodindo com um único impacto de som incrível que incinerou os mortos e levou as vidas das tropas que vinham em carga contra ele.

Imediatamente, a Nau Obi começou a recuar e o incarna voou para cima da cidade. Nesta altura já havia fogo aliado vindo da frota impedindo o avanço das fragatas de guerra ivoreanas, e a infantaria aliada com brigadas da Pristina invadia Capela por terra, aproveitando-se do terror dos ivoreanos para libertar os sobreviventes (como nós).

Não houve sequer um golpe de espada naquela noite, pois com um tremular de suas asas o incarna ceifou os soldados que já desejavam estar mortos há muito tempo. (...)"

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