Leitura: Sobre Frontauria

A desolação de todos os farisi que viveram a terrível Guerra de Iblis, se pôde encarnar fisicamente, engastou-se cravada nas muralhas de Frontauria. Esta terrível fortificação, hoje deserta, por tantos anos foi a residência dos insubordinados, dos resistentes e dos revoltosos contra a colônia e a União do Mar Alvo. Lá não era permitido sorrir. Todos que lá ficaram presos envelheceram rápido e perderam o viço de viver, ansiando por uma existência melhor após a morte. Muitos ficaram insanos e doentes, e quando as muralhas foram abertas a tiros de canhão odeniano, não houve quem saísse dali correndo de braços abertos para ganhar de volta a liberdade.

Construída a 692 D.F., Frontauria foi levantada com pedras das cordilheiras Aesir. Suas muralhas inclinadas pareciam poder desabar a qualquer momento, e o solo todo foi consagrado a Marena, anjo da desgraça, desejo e cobiça de Ivoire. Sua imensidão labiríntica era proibida aos ivoreanos: os algozes, vestindo túnicas brancas e capuzes, içavam os prisioneiros de fora com um guindaste, e os atiravam ao lado de dentro aos berros para que eles nunca mais voltassem. Era permitido aos colonos assistir o espetáculo da condenação.

Uma vez à cada lua minguante, adeptos de Marena resguardados por milagres, os Doutrinadores, entravam em Frontauria por uma abertura nas muralhas. Acredita-se que eles o faziam com a intenção de matar, por piedade, os prisioneiros que já estivessem em estado avançado de mortificação. Isso é o que se conclui hoje em dia por relatos externos e documentos recuperados; na época, acreditava-se que os Doutrinadores marenitas torturavam os farisi internos de alguma forma. É claro que isto contribuía para o mito de Frontauria.

Outro mito é que o Bispo Maarten Lyon, grande compositor de música folclórica, tenha sido preso em Frontauria, e tenha escrito uma das suas mais complexas e belas peças, a "Alegoria da Seiva das Estrelas" ao ser liberto pelos odenianos, quase no final da guerra. A verdade é que foi seu irmão mais jovem o condenado, Tyre, e o Bispo Lyon tenha composto a peça em memória ao dia que acreditou que Tyre havia sido morto.

A crueldade assume muitas formas neste mundo.