Leitura: Um Pequeno Conto de Keshal de Lorena

Isso seria a testemunha de um garoto farisiense que observava ao longe, que crescera e se tornara um escritor de alguma reputação na área em que vivia, contando com palavras o que vira ao longo dos anos.

" Foi até onde seus joelhos feridos puderam lhe levar e caiu por terra, finalmente. Antes tivesse feito melhor uso de suas forças! Viu-se cercado, em tão pouco tempo. Se pudesse levantar, derrotaria todos e voltaria a andar na sua jornada impossível até Odenheim. Mas não – e as marcas da última batalha agora começavam a arder violentamente.

“Levanta, dragão, e nos dá a honra de um combate belo”.

As palavras saíam com dor. “Cale-se, Rudeger...”

Inclinou a cabeça e ergueu as sobrancelhas. “Ao que me parece, não estás em posição de falar mais das tuas insolências... ainda assim parece alimentar-te do ódio... és um soldado admirável, sir Keshal de Lorena. Devo repetir-lhe que teríamos uma vaga para alguém como tu nas nossas fileiras...? Ou és determinado e tolo a ponto de não me ouvir mais? Eu me pergunto...”

Keshal fechou a mão sobre o punho da grande espada.

“A tua é uma cruzada sem esperanças. E os melhores soldados sabem a hora de trocar bandeiras...”. Como que dominado por sua própria oratória, permitiu-se virar de costas e contemplar o luar. Keshal analisou a situação cuidadosamente. Àquela emboscada, sobreviveria. Levantou-se de sopetão, pondo-se de joelhos e depois em pé, e cambaleou para trás. Um soldado reagiu e seu golpe de lança resvalou na placa de bronze. Seu infortúnio veio na forma da espada em balanço, quebrando o cerco. Ainda uma vez, Keshal cambaleou para trás, pondo-se fora do destino certo.

Rudeger andou lentamente até o soldado caído, e os outros soldados, pegos de surpresa pela determinação do dragão, prepararam as armas e vieram em sua direção. “Gostaria que morresse, Keshal... és uma dor-de-cabeça tão grande... mas insiste em seguir tua sobrevida, tua existência miserável atravessando esse deserto.” O hierofante ajoelhou-se e cantou um milagre para o soldado derrotado.

Os outros avançaram e lutaram com Keshal brevemente. À beira da morte, o dragão pouco raciocinava além do necessário para direcionar seus golpes aos olhos e aos torsos. Seu espírito se agarrava com cada vez mais força ao seu corpo, enquanto sua armadura imponente era destruída e as lanças perfuravam seu corpo. Eram quatro contra um, mas logo um ivoreano viu-se sozinho contra o dragão de olhos frios e rosto manchado. O pânico tomou seu coração e a espada o atravessou. Keshal enterrou a lâmina no chão e escorou o corpo.

“Admirável... realmente admirável. Tomaste a vida de alguns dos nossos melhores. Gostaria de ficar para lutar contra um homem tão poderoso, mas tenho um apontamento de mais importância do que sua captura”, disse Rudeger com sinceridade. “Creio que vá ter de encontrá-lo algumas vezes mais, mas quantos homens serão necessários para que eu possa lhe ver no chão, Keshal?”

Keshal cuspiu no chão. “Venha de uma vez, Rudeger. Vamos acabar com isso!”

“Ah, não... sinceramente não é de meu desejo enfrentar-lhe agora, não nestas condições. Você parece-me muito abatido e doente, e não deve comer há dias, pobre homem. Mais algumas horas e você seguramente irá desmaiar, e então os mantídeos irão arrancar seus braços... não acredito que possa ainda lutar sem braços, concorda...? Para que fazer o trabalho da própria natureza? Olhe para você, desgraçado.”

Keshal gritou um palavrão, girou a espada no ar e enviou uma lâmina grossa de energia verde brilhante em direção ao hierofante, que a aparou com uma pequena mandala do cajado. “Teu esforço é inútil”. Rudeger desapareceu num pilar de energia torpe e nuclear. Keshal fincou a espada no chão e levantou com força. Retomou o passo. A batalha o dera forças mais uma vez, para seguir sua travessia infindável.

“O que não me mata me faz ainda mais forte”. "

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