Leitura: As Desventuras de Cecília de Merle

Cecília de Merle, filha de Merivéter Merle, foi duquesa de Nerinsburgo, leste de Axúria. Seus cabelos negros a fizeram famosa nos círculos da burguesia cedariana: além de ser filha de quem era, era graciosa e uma romancista invejável. Suas obras incluiram O balde de maçãs, Estuans e O ode, grandes sucessos dos livros e dos teatros.

Apaixonou-se a infeliz por Dea Luken, recém-chegado da derrubada do famoso guincho da baía de Velian. Luken havia investido sua pequena fortuna em um cassino (chamado Ca$$$ino, originalíssimo) que foi inagurado poucos dias depois da abertura de Nova Belgrade, do qual seu pai tornou-se um grande freqüentador e apostador. Ruim de jogo e ansioso para apostar, Merivéter sustentou quase sozinho o cassino por muito tempo. Quando descobriram que era fácil ganhar nas máquinas eletrônicas, brilhantes e previsíveis que Luken havia adquirido em Ivoire, um grande público começou a freqüentar o cassino. E as contabilidades começaram a pender para o vermelho.

Neste meio tempo, Luken estava namorando Cecília, secretamente. Faziam isso pela emoção de ter um caso secreto e porque Luken tinha horror a casamento. Pouco depois das coisas começarem a piorar no cassino, Cecília descobriu que estava grávida. Escondeu enquanto podia. Logo as criadas já comentavam que a menina teria um filho. Cecília não quis perder o respeito de seu pai, mas também não queria perder o amor de Luken.

Então Luken raptou Cecília. Um dia ela acordou no meio do Oceano Boreal, num pequeno barco de madeiras claras, um bom barco à velas, sozinha com Luken. Ela ficou assustada, mas não desaprovou de todo a idéia. Os primeiros meses pareciam ter saído de um sonho. Planejavam ter o filho no Templo dos Grandes Deuses em Veruna, sob Idun, mas uma seqüência de pequenas complicações fez Luken ter de desviar a rota do barco rapidamente para baixo de Fakhri, uma estrela a nordeste de Faris, que regia os ventos quentes e as areias.

Nasceu Cecil Luken, batizado em homenagem à mãe, uma criança introspectiva e curiosa.

Passadas algumas semanas, Luken descobriu que Merivéter tinha posto capitães e piratas atrás do casal. Em pouco tempo as coisas estavam ficando difíceis para os dois e o pequeno Cecil. A sensata Cecília não queria criar a criança naquelas condições. Luken tinha um sonho de ir de capitânia para Calibur ("Eu conheço um caminho!") e criar Cecil lá e em paz, mas Cecília sonhava em ter um filho elegante e viajado, não um selvagem simples.

Luken e Cecília se desentenderam por algum tempo, mas não havia muito espaço pra se distanciarem dentro do barco (ficava, no máximo, um na popa e outro na proa).

Num ato de amor, decidiram então se separar. Cecília voltaria à sua vida, e Luken criaria Cecil em paz dentro de barcos, fazendo-o aprender a ser um mercador e um navegador de grandes proezas. Prometendo voltar para encontrá-la quando Cecil fosse um homem, Luken despediu-se dela no porto de Axúria. Pouco tempo depois, ela já estava de volta sob as asas do pai.

A proposta de Madai veio logo depois; o ex-pirata havia estabelecido contato com a República; Luken trabalharia como um consultor experiente para as navegações. Pouco depois, Cecil já tinha seu próprio barco.

Cecília esperou por muito tempo além dos vinte anos que imaginava que levaria para que seu filho se tornasse homem. Luken nunca voltou. Foi encontrado morto depois que recusou oferecer seus trabalhos para Ivoire. Cecil e um amigo desconfiavam de um ex-sócio que era a favor do negócio... mas isto é uma história para outro dia.

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