Leitura: Idos de Nova Faris, Parte 2

Houve algo que não mudou ao longo das Guerras de Iblis e nos conflitos de Ivoire contra Oden em solo farisiense, e que não mudou apesar da mortalização do Belvedere e da ameaça constante dos cálciferes vagando entre os ventos. Sessenta anos de chamas não tiraram os adeptos de Fantasos da sua eterna romaria de lado a lado dos cânions arenosos que circundam Belvedere. Talvez ninguém tenha sequer sabido que eles estavam lá.

O soterramento de 698 D.F. em Calcedona atingiu parte dos cânions, mas foi confirmado pelos astrônomos de Axúria que a área sob o gigante branco continua erguida. A Torre Secreta fora preservada.

Os ritos de madrugada mantidos há mais de dois séculos pelos jovens artistas e pelos adeptos vagabundos de Fantasos - eles preferem ser chamados assim - envolvem a captura mística de um sonho vagante, da demarcação de um lugar com tochas de chamas púrpuras à álcool, da guarda dos dervixes e, finalmente, nas primeiras horas dos lumes da manhã, da encenação do sonho, envolvendo poderes de ilusão e de vôo.

Épocas luminosas geraram sonhadores poderosos, que eram buscados pelos adeptos para juntar-se à Torre Secreta.

As trupes vagabundas de Fantasos puderam ajudar decisivamente as caravanas que passavam pelo Belvedere, erguendo uma cidadela temporária com barracas coloridas e um grande monumento levado sobre uma besta de carga. Este carnaval móvel foi chamado 'A Sublime', e pode-se dizer que os adeptos salvaram muitas vidas da perdição completa desta maneira.

Se depender do povo, é provável que, assim que houver uma tentativa formal e efetiva de reorganizar e centralizar novamente o governo de Faris, haja uma parte que caiba aos adeptos-redentores de Fantasos. Mas acredito que, dificilmente, as mesmas pessoas que viajam por entre sonhos possam tocar em vão dinheiro e papéis.

Que assim seja, para sempre.

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