Leitura: A Hégira dos Dragões da República

Com os últimos Dragões-da-República, em Faris, foi assim, ou assim me contaram.

"Ainda que uma máscara de sangue lhe cobrisse os olhos e fizesse o mundo como por um filtro vermelho-escarlate, ainda que a dor lhe queimasse as entranhas, a explosão, a luz, o incarna poderoso, ele gritou, maior que o mundo. "Saiam! Saiam todos vocês! Vamos embora daqui!"

Pouco a pouco, os dragões apareceram nas janelas, barricadas e armuradas do castelo arruinado que chamavam Último Forte. Julius estava devastado. Sem reação, eles contemplavam sua figura. Julius contorceu o rosto de dor. "Erebus nos entregou, vamos sair daqui, malditos!" Como se eles não ouvissem, Julius descarregou o tambor da pistola na parede do forte. "SAIAM!"

Os olhos brilhantes de um dragão mais jovem puseram-se a chorar. "Julius! Onde estão todos os outros? Onde tá o Bharrai?"

"Bharrai está morto, assim como o comandante, e Seiferth, e Blaise também."

"Julius!"

"E eu acho que morrerei breve! Tenho que tirá-los daqui!"

Abalados, os dragões firmaram os olhos no horizonte e foram, um por um, recolhendo os últimos recursos que lhes sobravam no forte, umas poucas armas... e suas esperanças, parcas, frágeis, espadas de vidro rachadas, orbes velhas, ombreiras gastas, braceletes. Muitos choravam pelos que perderam e pelos que ainda viriam a perder. Muitos consideravam sair, fugir, mas pra onde? Por quê? Muitos sentiam que algo havia se quebrado, algo havia se perdido, e ponderavam se algo não seria suas vidas. Tiraram as velhas asas de ferro e as escopetas de prata dos baús, e enrolaram suas longas capas de dragão.

"Não mais sejamos um. Sejamos muitos, e invisíveis, sejamos um enxame e não uma força única. Vamos atacar onde não somos aguardados. Vamos derrubar navios, sequestrar líderes! Vamos vingar o capitão!"

"Julius... vão matar muitos aldeões se começarmos a fazer vandalismos. Você sabe que eles matam gente quando não agimos de acordo."

"Eles matam gente de qualquer forma, aldeões, soldados, o próprio Mansa, eles não estão preocupados com honrarias ou boa política de guerra, vamos sair e atacar os corações de Ivoire!"

Naquela tarde, quase cinqüenta dragões ergueram-se em revoada. Dividiram-se no crespúsculo com claques surdos. Haveria fogo na noite. "

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