Artigo: Instrumentos Percutidos da Antiga Rublo

Perdoem-me a inexatidão do título. Tudo que será tratado aqui diz respeito às tradições da antiga ilha-sul de Odenheim que, hoje, força do destino, chama-se Rublo.

Quando eu era mais jovem, uns 30 anos que os valham, eu estive com meu pai - meu pai viajava um bocado - de vila em vila no interior de Rublo. Eu me lembro de muita coisa dessas viajens. Meu pai era um terror no meio das meninas, parecia um garoto, não um setentão velho de guerra da coroa. Nós pudemos ver uma coisa rara e fantástica durante essas andanças. Essas palavras eu escrevi na época, poucos dias depois do acontecido.

Eu tenho um hábito de jogar fora todos os meus textos que encontro daquela época. Eu era diferente, quase arrogante, me considerava um ser especial e achava que todos deveriam ficar atônitos com minha grande sabedoria e minhas sacadas sobre a vida.

Esse texto eu não joguei fora, não. Eu estava maravilhado quando escrevi (o efeito durou sobre mim uns bons dias depois do que eu vi - eu tinha enchido a cara, também). Eu estava me sentindo tão bem e tão humilde, tão pequeno frente à maravilha que os homens inspirados poderiam fazer, tão diferente de mim mesmo. Peguei do papel e fiz pra mim mesmo o favor de registrar aquelas palavras que estavam brotando de mim.

"Esse ano foi difícil pra eles, foi um ano em que não estava vindo ajuda de lugar nenhum, nem os felpi e nem os cavaleiros do norte. E a neve estava impiedosa sobre a terra, a deixando esturricada, ruim para plantar. Mas ninguém chegou a passar fome. Aquele sol glorioso fez tudo encharcado, mas estavam dançando encharcados com aquela neve que havia sido banida, esconjurada.

Naquela noite houve tanto vinho, o vinho de dez casamentos, e houveram grandes tambores de água ribombando para fazer-nos tremer por dentro. Houve uma música divina, uma música de salvamento, uma música que viera para nos fazer perceber o quanto Maeve nos amava.

Aqueles tambores de água recém-degelada devem ter sido usados só daquela vez e nunca mais, e sorte de quem viu a dança sob o sol quase no fim da tarde, anunciando que todos estariam salvos. Eu e meu pai poderíamos pegar nossos trenós e partir dali o mais rápido possível, mas aquele povo em espera estava apertando nossos corações. A glória de Nila é um tambor de água, um tambor espontâneo, desritmado, reverberante, impreciso, e milagroso."

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