Leitura: Uma História de Pluma Isabelle

Essa é a primeira parte de três capítulos escritos por um auramante que contam de aventuras de Pluma Isabelle antes que ela voltasse à Lodis. Se eu puder encontrar os outros capítulos, transcreverei-os para cá.

"Nossa improvável reunião fora feita com precisão histórica naquela noite de Belvedere. Muitos anos antes de que qualquer coisa terrível tivesse acontecido, as idéias eram mais difusas e impressionistas, e até os poetas mais trágicos não nos convenciam tanto. Espiritualmente aceitávamos toda felicidade de maneira natural, fluída. Pluma, de gatinhas, tentava entender algo estranho num papel, e Hani Leão-Vermelho repetia a passagem com vários sotaques, rindo de si próprio. Todos levemente tristonhos porque as duas garrafas de vinho que se permitiam toda noite tinham se acabado prematuramente.

Amaterasu, a dragoa, me parecia uma estátua de bronze. O nome guerreiro fazia lhe faltar mais uns dois braços, mas a velocidade dos outros a servia bem. Naquele tempo, era jovem, violenta e seus reflexos ainda não tinham manchas de dor. Eu me lembro do brilho nos seus cabelos e no seu olhar, e me lembro da sua voz potente nos guiando sempre em frente. Quantas vezes não me carregaram aqueles braços que não vestiam braceletes ou adornos de mulher, e quantas vezes não me surpreendi perdido no seu vigor sempre pronto e contundente.

E Kainen, ninguém costumava perdoar sua sorte, pois as estrelas pareciam ter lhe tecido um manto indestrutível. Os tiros e flechas pareciam resvalar na sua pele, e também naquela cota de malha tão velha que ele usava. Já lhe vimos ferido algumas vezes, e de coisas tão singelas quanto espinhos de rosas. Mas em batalha era um leão, muito mais do que Hani que carregava a fera no nome. Lemminkainen o Imortal, era como costumávamos chamá-lo, e ele fingia estar aborrecido quando regojizava-se com os elogios, por dentro e tão secreto quanto um balde de tinta.

Pluma lutava tão mal naquela época que chegamos a pensar, mais de uma vez e por sua própria segurança, que devíamos lhe assegurar uma posição na retaguarda com uma escopeta ou umas flechas, mas a teimosia da garota sempre nos vencia. Hoje imagino que ela consiga derrubar vinte serretes a caneladas, mas naquela época era menina demais. Devia ter não mais do que dezessete anos, mas ela sempre nos mentia a idade.

“Vinte e dois! E eu já tinha dito isso pra vocês” – emburrou, recuando defensivamente. Levantou, deu duas voltas em torno da roda, e sentou de pernas cruzadas no chão.

“Com o teu perdão, Pluma, você disse vinte e um no mês passado, e se não acredita, olha aqui, eu anotei no meu diário” – disse uma vez Lucas, o auramante, a deixando corada.

Pluma xingou um ou dois palavrões e abraçou os joelhos. “Eu não tenho culpa, eu fui raptada, não me lembro o dia do meu aniversário, mas aquele senhor tinha dito que eu parecia que tinha vinte, e... e eu acreditei nele, então eu tenho vinte e dois anos. E posso andar com vocês, e se vocês me acham ruim, depois tinham que ver o Hani atirando com a besta”.

Hani fez cara de mau. “E você com essa história de rapto denovo.”

“É verdade...”

“Toda vez que você conta, muda os detalhes”, disse Lemminkainen, bocejando e deitando no colo de Pluma. “E ninguém aqui engole essa de você ser a nobilíssima herdeira da coroa de Odenheim. Não tem ninguém te procurando, você é ralé que nem eu. Além do mais, os únicos aristocratas aqui são o Luc e o Hani, e o Hani parece mais um babãozinho!”, grasnou rindo.

“Conta essa história denovo”, disse Luc. “Exagera nos detalhes acrobáticos que nem da última vez, pro Hani desemburrar. Só não inclui aquele golpe fenomenal de espada que você deu aos cinco anos de idade”.

“Mas eu juro que eu acertei aquele homem com a espada! Por todos os altíssimos! Era uma noite como outra...”, fez-se reticente e deu um arzinho de mistério. Sorriu. “... eu me lembro de me olhar no espelho o tempo todo. Tinha um cabelão vermelho que eu não deixava ninguém mexer, e usava as roupas mais bonitas. Odiava quando aquelas criadinhas vinham me pentear, eu batia nelas com a bengala de meu pai.”

“Muito convincente,”, disse Lucas. “mas vá para a parte do seqüestro.” "

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